30 de junho de 2014

N-561


Tilintar de louça, aspirador de pó. Um bebê chora alto, grita, esfola a garganta nova em folha enquanto a mãe chacoalha o embrulho no colo, provocando sensação de abalo sísmico. O apartamento no terceiro andar começa a ceder. Chega até aqui o cheiro de cigarro e amaciante da sacada onde alguém estende a roupa branca depois de onze dias de chuva. Um carro amarelo surge na esquina e para em frente ao terreno baldio. No terceiro andar, o homem aparece à caça do sinal do telefone. Lá dentro, drinks de frutas e canapés. Um casal de promotores decide o futuro do terreno baldio onde o carro amarelo amassa a vegetação. A rua continua morro acima, alternando pavimentos de asfalto, lajota e pedras. Vai se estreitando até virar uma trilha bifurcada. De um lado, a casa da bruxa; de outro, o pote de manteiga boiando nas primeiras ondas. Fim da linha, diz o motorista e um braço fica preso na porta. O suco escorre da mochila da garota de uniforme e tênis ortopédico. No terreno baldio, algumas crianças competem pelo melhor graveto enquanto a professora enumera acidentes geográficos.

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