1 de julho de 2015

aterro muda praia


Não há como saber que horas são. Nem mesmo se é dia ou noite. Ambos os cenários parecem verossímeis e repletos de detalhes que tanto servem para comprovar quanto para desmentir. Há alguma luz, porém de natureza indefinida. Poucos carros circulam mas esta é uma via secundária, de toda maneira. Frio e calor também se fundem em uma temperatura amena com picos de rigor. O vento que sopra pode ser cortante ou abençoado. Estou descalça no meio da cidade ou em pleno sertão. A fome e o cansaço - ainda que pequenos - se somam um ao outro sem qualquer prioridade. Já faz um ano. Estamos no mesmo lugar. Um véu de miragem repousa sobre tudo que a vista toca sem discernir. Os traços se diluem na distância, as arestas amolecem conforme o ponto de fuga se dirige ao horizonte. Estou aqui há muitos séculos. Ora de um lado, ora de outro. A cena se repete indefinidamente: localizar a órbita e operar no limite desta referência, dando voltas em torno de um núcleo inteiramente imaginário. Colar um centro no que é apenas margem. Viver um ano em quinze dias. Percursos onde se esfacela a relatividade do tempo. Anos-luz.

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