12 de agosto de 2014

arquivo morto nº 2

recolho os cacos maiores e espero até que venham me questionar sobre o barulho. o estilhaço como estratégia de resgate, após cinco dias sem nenhuma palavra. mas o andar de cima continua silencioso. talvez estejam fora desde ontem, me deixando agora encurralada entre a cortina e o tapete. tento alcançar o jornal para fazer uma ponte, um trilho, mas o movimento o sopra para longe, até chegar ao túnel de onde objetos desaparecem noite após noite. viro de costas. a folhagem não deixa mentir.

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passo a maior parte do dia entre a sala e o corredor dos quartos, esquecendo uma coisa a cada viagem, parando apenas para acender a luz e verificar o telefone no gancho. apesar dos sacos cheios de lixo, a casa tenta reaver a poeira espanada ao longo dos anos. ficam parafusos, pequenos buracos no concreto, marcas de pés e dedos gordurosos, panos encardidos. o assoalho está novo onde os móveis o pouparam do sol. desmonto prateleiras e estantes. separo algumas fotografias. os mortos que não podemos enterrar, então acendemos fogueiras ou os distribuímos em caixas cada vez menores.

(2008)

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