10 de agosto de 2014

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Magda atravessa a cidade sem nenhuma expectativa de ser reconhecida. Apesar de todos saberem sobre a torre, a imagem catatônica replicada mundo afora, apesar disso não esperam encontrá-la na rodoviária ou no semáforo. Por isso não a veem. Magda para no meio da passarela para observar o mar de pessoas e carros, a marcha que transfere tudo da origem para o destino, o moroso pêndulo que mesmo aos domingos oferece obstáculo à percepção do tempo. Permanece incógnita. Magda condena o fluxo e seu sistema de dependência mútua. Tem vontade de sair depressa, cruzar a via a toda velocidade e tomar a primeira saída. Mas mesmo a imagem hipotética se deteriora. Alguém vindo de São Bonifácio faz Magda perder a sincronia dos sinais. Ela para no meio do viaduto, indiferente ao deslocamento irrisório da última hora e meia. Olha para cima. Um helicóptero circunda a região central. Procura fugitivos, homens de capuz e canivete. Magda fecha a janela e o ar abafado lhe lembra da torre. O calor da fogueira colossal invadindo a saleta, derretendo plásticos, sufocando. Ainda no alto do viaduto, Magda olha para o lado e vê a ponte que nasce da avenida. Precisa alcançá-la mas o traçado a leva para longe, exigindo uma manobra irracional em primeira análise. Depois do susto, qualquer escalada, degrau ou parapeito se torna duvidoso. Tudo vai bem na passarela às seis da tarde. De repente Magda manifesta em série todas as doenças do labirinto cujo principal sintoma é a perda de equilíbrio. A mais concreta consequência: Magda não pode se manter de pé. No alto do viaduto, da passarela e da torre, tenta não ter medo. Olha em direção ao céu até localizar um pássaro ou objeto voador.

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