10 de maio de 2018

azul


Vivo em um apartamento de paredes azuis. Tenho xícaras azuis, caixas azuis, medos azuis. Faço de conta que estou em um barco. Mas só dura o tempo de um semáforo de três tempos. Essa lâmpada vive a queimar. Assim como queima o azul do teto. E ficamos secos, secos de ver o concreto armar sobre nós. Nem metade do gelo. Assim como queimam os picolés e as balas azuis. Faço de conta que estou em um buraco: cavando um pouco mais, alcançaremos Saturno. Em Saturno temos apenas um ano. Morremos antes dos três. Tenho um anel azul, é verdade. E mais de sessenta luas. Faço de conta que estou em branco. Em um bricabraque. Os medos azuis são medos essencialmente desinteressantes. São medos sem forma e sem objeto. Não são fobias. São medos difusos, vagos e quase frios. Estáticos. Ninguém responde pelos medos azuis, nem sabe aonde levá-los. A diferença entre o céu e um medo azul é que o céu não existe.

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